- Nesta semana, o surto de microcefalia já chegou a 399 - casos, subnotificados (o número pode ser muito maior), um desastre de saúde pública no país inédito na história recente do mundial.
- A epidemia de retardo mental causada pela doença já está se convertendo num acontecimento internacional e histórico, escândalo político médico de grandes proporções, com a produção de retardo mental em massa em crianças, por enquanto, localizado no Nordeste. É possível que novos estados entrem nessa lista, na medida é possível que a tragédia se amplie.*
- O que é o surto de microcefalia?
- No Brasil, no momento, estamos vivendo um crime de saúde pública que vem tomando grandes proporções. Trata-se do aparecimento em massa de crianças que nascem com microcefalia, ou seja, com cérebros, fortemente reduzidos (com perímetro cefálico inferior à 33 cm), uma criança com enormes chances de desenvolver retardo mental e outras graves sequelas, que não possui cura.
- Os dados são tão alarmantes que o governo chegou ao ponto de decretar nos últimos dias, estado nacional de emergência para esta doença, porque ela cresceu em cerca de 20 dias, o que ela cresceria em um ano, o Brasil tem um média anual de 154 casos da microcefalia, desde 2010, porém, hoje, somando os 9 estados do Nordeste, a cifra oficial já bate em 399 casos em três meses. É importante lembrar que esta doença não possui notificação obrigatória pelos médicos, portanto, o número de casos fora dos registros pode ser muito maior.
- Fundamentalmente, esta doença é causada por uma gravidez sem proteção, na qual a gestante não está recebendo a devida atenção do Estado. Nesse sentido, é fundamental discutir as causas desta grave doença congênita, e como esta se relaciona com a saúde da mulher e o direito à maternidade e à uma gestação segura garantida pelo Estado.
- A microcefalia e o zika vírus
- O fato é que o governo Dilma e os governos estaduais e municipais estão fazendo muito pouco. Nesta última semana, as autoridades reforçaram a possível associação entre o zika vírus e o surto de microcefalia – veja aqui . porém esta associação não está 100% comprovada, existem estados que apresentaram o vírus e não aumentaram seus casos de microcefalia. Vale lembrar, que o zika vírus é parente do chikungunya (vírus CHIKV) e do vírus causador da dengue, sendo transmitido pelo mesmo mosquito vetor, o Aedes aegypti.
- Outras causas possíveis
- Existem outras possíveis causas da microcefalia, porém, estas não seriam o suficiente para justificar tamanho aumento nos casos da doença em tão pouco tempo e em várias regiões do nordeste. Dentre elas estão, a desnutrição grave da mãe, uma situação de parto difícil e com pouca oxigenação do bebê, uso de raio-x durante a gravidez, além do uso de álcool, cigarro, antibióticos, calmantes, cocaína, aspirina, entre outras substâncias durante a gravidez.
- Nesta esfera das diversas drogas cujo uso durante a gravidez pode vir a causar microcefalia, existe uma a mais: um pesticida conhecido por 24D (Diclorofenoxiacético), que é o terceiro mais usado no brasil e que segundo pesquisas realizadas em sapos, é capaz de gerar microcefalia. Uma droga muito usada no cultivo de soja, que cresceu muito no Brasil na última década petista.
- Dos micróbios que podem causar a microcefalia, o zika vírus, é um dos, porém os vírus da dengue, chikungunya, a rubéola, além da toxoplasmose e o citalomegalovírus, durante a gravidez, podem também gerar como doença congênita, a microcefalia. A conexão entre o zika vírus e a microcefalia ainda não está confirmada, existem estados que apresentaram o vírus e ainda não tiveram saltos na doença. Não é comum, porém a mãe também pode apresentar uma alteração genética, o que é um fenômeno muito raro.
- Seja qual for a causa, pesticida ou mosquito, é um problema fundamental que falta de saúde pública, de falta de atenção do governo com a saúde, para garantir uma garantir uma gestação saudável, protegida e também garantir a notificação de cada caso existente, e a questão dos agrotóxicos e da proliferação dos mosquitos.
- A denúncia a impotência dos órgãos internacionais de saúde frente à tragédia
- É preciso denunciar a OMS e demais órgãos internacionais da Saúde, como órgãos da impotência, porque não tomaram as devidas providências diante dos 154 casos que ocorrem “normalmente” no Brasil ano a ano, o que deveria ser considerado um verdadeiro escândalo de saúde pública. Seria necessária uma campanha sistemática e internacional para dar um fim a esta máquina de produzir retardo mental que é o governo brasileiro, nesse aspecto, a OMS, tampouco está preocupada com a prevenção da microcefalia.
- A necessidade da prevenção durante a gravidez e o diagnóstico precoce
- Reunindo todos os possíveis causadores da doença, é muito claro, que a prevenção é possível. O que é certo é que diante de tamanha gravidade deste surto de microcefalia e retardo mental nas crianças, o governo vem tomando ações muito tímidas. A realidade no país é de um serviço de saúde pública cada vez mais sucateado, precarizado, insuficiente para atender plenamente às necessidades do conjunto da população, a trágica consequência, é a não atenção básica que milhões de mães sofrem em sua gravidez e o resultado desse descaso dos governos é a persistência de doenças que há muito já poderia ser superadas como a microcefalia.
- As crianças com microcefalia podem apresentar, além da grande chance de retardo mental, epilepsia, hiperatividade grave, nanismo, distorção facial, ou seja, é uma situação que potencialmente pode desestabilizar toda uma família, pois não há cura (os ossos do crânio se fecham rápido e o cérebro não pode se desenvolver) e o desgaste com cuidados especiais é muito grande e custoso.
- A prevenção da microcefalia é possível e pode ser feita a partir de uma proteção qualitativa da gravidez pelo serviço público de saúde de qualidade e universal, com pré-natal e todos os cuidados necessários com a presença de médicos ginecologistas e obstetras. Cuidados estes que envolvem uma orientação eficaz da mulher para evitar o uso de substâncias que podem causar a microcefalia, como calmantes, aspirinas, cigarro e antibióticos, álcool, a observação se a mãe está dentro do raio de ação do pesticida 24D, o acompanhamento da gestante de forma a observar se esta faz uso de cocaína, heroína, cigarro, e uma vigilância médica com relação ao micróbios (vírus da dengue, zica, chikungunya, etc), além de não permitir Raio-X na região abdominal e fazer o uso de teste genético gratuito e universal capaz de diagnosticar a microcefalia com antecedência.
- O descaso e a responsabilidade dos governos
- O escândalo fica ainda maior quando se contata que anualmente no Brasil tem-se uma média de 154 casos por ano, desde 2010. É um número muito alto. Isto significa que os governos estão permitindo anualmente 154 crianças com retardo mental sem cura. E o governo não fez disso um debate nacional, e só tomou algum tipo de reação a partir do momento em que a opinião pública se tocou a partir do surto. O grande debate político que se esconde por trás do surto de microcefalia, é que o Ministério da Saúde (ou melhor, da Doença) está sendo conivente com o surgimento de 154 casos de microcefalia por ano (subnotificados). Estados como o Sergipe, que apresentavam por 2 casos por mês (o que já é um escândalo), agora apresenta 49 casos em setembro e outubro.
- Por outro lado, as agências sanitárias brasileiras recebem muita verba, porém são um verdadeiro fosso de corrupção, são inoperantes, e nunca denunciaram a microcefalia no país. Esta realidade política do país, faz com que tenhamos que olhar a microcefalia do ponto de vista político e social, como um sinônimo de falta de proteção à maternidade por parte dos governos, particularmente, do governo Dilma, de uma presidente mulher.
- Como medida mais recente, o Ministério da Saúde (da Doença) anunciou que irá distribuir 40 toneladas de larvicida – que inclusive está em falta no país, será importante com milhões de reais, um produto não biodegradável e não natural – para as famílias combaterem o mosquisto vetor do zika vírus (que é o mesmo da dengue), porém esta medida é absolutamente insuficiente como prevenção a microcefalia e do próprio combate ao mosquito.
- O fato é que o larvicida é um produto industrial importado, e na prática sua distribuição será uma demagogia que beneficiará apenas a indústria e não a população, é um produto tóxico para os humanos, e que dificilmente será utilizado em massa nas regiões mais pobres e afastadas dos grandes centros do país, além de ter uso inviável nas fábricas abandonadas, terrenos baldios, lixões, periferias, e outros focos de proliferação que vem escapando de fato ao controle de medidas como esta.
- Quais as possíveis respostas para o verdadeiro combate à microcefalia
- É primeiro lugar, é preciso exigirmos a notificação obrigatória de cada caso de microcefalia pelo médico inclusive em casos em que se vai à UTI. Porque o tamanho da tragédia é muito maior do que o que estamos vivendo nos estados do Nordeste. Também é preciso exigir que as mulheres tenham o direito ao exame genético do bebê e ao pré-natal que pode diagnosticar a presença da microcefalia com antecedência, dessa forma, a mulher tem o direito à consciência sobre sua gravidez e poder assim tomar a melhor decisão.
- A identificação das causas do surto é outra tarefa urgente, para isto é necessário, um chamado ao movimento estudantil, exigindo da UNE e sobretudo da ANEL, como entidade antigovernista e que possa assim, dar exemplo, a partir de campanhas junto às universidades e faculdades de medicina, e demais áreas da saúde, para realizar frentes de trabalho independentes a partir do movimento estudantil e popular, com jornadas para rastrear as reais causas desta epidemia de retardo mental no Brasil num grande levantamento epidemiológico que supere as “força-tarefa” burocrática e militarizada dos governos.
- A relação entre o zika vírus, que chegou ao país neste ano, e a microcefalia, por ser uma possibilidade real, deve ser investigada e que se disponibilize o mais rápido possível, testes rápidos para detectar a contaminação pelo vírus, um teste que já existe para a dengue.
- Outra medida, relacionada a transmissão do zika vírus pelo mosquito causador da dengue, leva a necessidade de exigência da distribuição em massa repelentes naturais, como a citronela e a andiroba, além da distribuição de mosquiteiros para as mulheres grávidas em especial, que sejam recolhidos nos postos de saúde. É preciso ir além da discussão da exigência da vacina, que está na ponta de lança dos lucros da indústria farmacêutica.
- A universalização do acesso ao saneamento básico; campanhas de esclarecimento a partir do movimento de massas (e não de forma burocrática por meio do Ministério da Saúde, como também está na proposta do governo); campanhas junto aos sindicatos, associações de barro, movimento estudantil, para irem em campo, desinfetar e sanear os bairros para atacar os focos do mosquito, são outras três providências que atacam a raiz do problema relacionado ao surto microcefalia, se associado ao zica vírus.
- Devido às graves consequências para as crianças, a microcefalia exige cuidado extra do Estado, que envolve a criação de centros de reabilitação e creches especializados no tratamento destas crianças, com profissionais especialistas e equipamentos. Já são centenas de bebês com retardo mental no Nordeste e podem vir a ser milhares em todo o país, e as famílias precisam da garantia de que seu filho ou filha receberá os devidos cuidados, já que a doença não tem cura.
- É preciso denunciar a responsabilidade do governo Dilma por esta tragédia na vida da criança e para centenas de famílias, por não ter concedido fundamentalmente, e aí está a causa básica para a microcefalia em geral, a garantia da proteção à gestação da mulher, com um sistema de saúde público, gratuito e de qualidade, a despeito de o país ter uma das maiores cargas tributária do planeta (que é destinada sobretudo aos bancos internacionais e à corrupção).
- As recentes medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde (ou da Doença) do governo Dilma, são na prática, uma propaganda do governo e estão longe de darem conta de tamanha tragédia na vida centenas de crianças e de famílias. Um combate efetivo à esta tragédia social e médica que é a microcefalia no Brasil, e em defesa do direito pleno a uma maternidade protegida, só pode ser feito de modo independente dos governos e anticapitalista. É urgente a luta por um outro sistema público de saúde, gratuito e universal no qual a prioridade seja a vida, a prevenção, e não os lucros das empresas farmacêuticas que se beneficiam com o uso de larvicidas, pesticidas e vacinas.
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1 de dez. de 2015
Microcefália e Zica Vírus
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